sábado, 25 de julho de 2020

Mar-mãe


Uma maruja navega em busca da imensidão
Mareja os olhos ao se perceber minúscula

sexta-feira, 17 de abril de 2020

Primeiras impressões sobre o novo mundo


Pausa. Espera. Olhar pra dentro. O planeta em gestação. Parece que todos decidiram se juntar a nós nesse processo que temos vivido tão intensamente. A gente bem sabe que as águas internas por vezes se agitam, provocam um movimento que parece involuntário. É um ser outro que dança, em ritmo próprio, o seu balé aquático. Esse outro novo. Um novo nós outro. Uma continuidade descontínua. A própria vida pulsando em busca de renovação. E assim seguimos caminhando em frente, a única direção possível, onde nos aguarda o desconhecido.

domingo, 1 de março de 2020

Da Paciência e d'Ajuda


O caminho da paciência foi grande, meses num processo de fechamento de ciclo e um sentimento de improdutividade, até mesmo de inutilidade. Um tempo de recolhimento e reflexão, para rever conceitos, objetivos, vontades. Foi preciso ser nômade, desapegar, percorrer o mundo para se descobrir pertencente ao próprio lar. Foram necessários muitos mergulhos, muito sol pra queimar a pele e sal pra temperar a alma. A ajuda de que tanto precisava veio justamente no dia em que iniciei minha jornada desde a Paciência até d'Ajuda, o Arraial dos afetos em rede, como um estalo que acorda a mente e a traz de volta à vida. E assim me descobri água, leve e fluida, mas ao mesmo tempo forte e pesada. Água que permite o movimento, mas também controla. Que demanda força sem se sentir, tamanha a delicadeza. Água que engole, leva, cospe, arrasta pra onde quer. Água que se deixa cair pelo simples molhar e que aquece ao passo que congela. Água que queima, água como fogo. E fogo que incendeia o mundo.

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Divagação


Me encanta más los caminos que las llegadas.

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

A montanha e o mar


Fiquei me perguntando se Dom Quixote era louco ou na verdade extremamente lúcido. Depois notei que esse questionamento sequer fazia sentido. Ou afinal de contas não vivemos um delírio coletivo? Somos seres delirantes por natureza, acho. Penso que entendi um pouco Dom Quixote ao encarar a montanha, aquele gigante de pedra. Criaturas gigantes nos fazem lembrar que somos minúsculos. Percebi que só se sobe uma montanha ao aceitar cada passo. E nessa longa caminhada rumo ao ponto mais alto o próprio sentido de infinito altera-se indefinidamente. A montanha nos ensina sobre alcançar o céu e manter os pés firmes no chão. Depois a gente descobre que subir é mais fácil que descer - a montanha nos faz sentir grandes e é na descida que nos deparamos com a pequenez. Os limites do cansaço, da sede e da fome se expandem. Ao descer, estamos irremediavelmente avançando rumo ao nível do mar onde nos aguarda o oceano.

Assim decidimos seguir. Como alpinistas, marujos, cavaleiros ou mesmo astronautas. Microscópicos seres delirantes em uma jornada sem fim rumo à imensidão.

terça-feira, 3 de setembro de 2019

Autorretrato


Eu me apresento como um corpo em busca de uma conexão apesar de sentir-se conectado. A mente que flutua como partículas de oxigênio - ou outros gases nobres. Volátil em essência, porém capaz de estabelecer uma rede energética de neurônios que se comunicam através de espasmos. Por outro lado, raízes, rizomas, uma energia densa que me prende ao chão. Um peso que me permite voar, mas sempre retornar. É essa conexão com a terra sob meus pés que me impele a olhar para a energia sutil dispersa no ambiente ao redor. Porém como equilibrar-se, como fluir entre energias de densidades tão diferentes sem nunca desconectar-se da outra? Meu desafio está nesse entre. Nas bordas, nos limites, na delimitação, na criação de canais energéticos, pontes entre ilhas aparentemente desconexas. Em um constante deslocamento. Em um não-lugar. Em um sentir-se sempre fora, sem se encaixar, sem se identificar. Mas ao mesmo tempo estar, ocupar, fluir, deslocar-se, literalmente ser nessa utopia de predefinições oníricas de um inconsciente coletivo delirante.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Ser água


O mar, esse eterno deslocamento
Somos não mais que um amontoado de bactérias
Um cosmos inteiro de matéria orgânica
Em movimento constante de expansão e contração
Respiração.